O processo de avaliação do aprendizado é peça central para o sucesso de um programa de ensino, mesmo que, muitas vezes, seja relegado a segundo plano. Muito esforço se faz no sentido de montar a estrutura do curso, seus objetivos de aprendizagem, seus métodos, seu cronograma e, por vezes, as estratégias de avaliação são subestimadas em importância, ou, o que pode ser pior, reduzidas a um conjunto de técnicas de mensuração do atingimento dos objetivos de aprendizagem pelos estudantes. Na verdade, a avaliação da aprendizagem requer o uso de um número de métodos e técnicas para essa mensuração, mas é mais do que isto. É um processo sistemático, que desempenha um papel significativo no ensino efetivo. Esse processo se inicia com
a identificação dos objetivos de aprendizagem e termina com um julgamento acerca da extensão em que esses objetivos foram atingidos (LINN; GRONLUND, 1993).
Tipos de avaliação da aprendizagem
Em busca de um sistema mais completo de avaliação da aprendizagem, propõem-se os seguintes tipos de avaliação, sugeridos por Airasian e Madaus (1972):
I. Avaliação de Situação (placement assessment): determina a performance do estudante no início do processo educacional.
A Avaliação de Situação está relacionada à performance de entrada do estudante e, tipicamente, enfoca questões como:
- O estudante possui competências necessárias para o início do processo educacional planejado?
- Em que extensão o estudante já desenvolveu as competências, que geram os objetivos de aprendizagem do programa educacional? Níveis suficientes de proficiência podem indicar um salto para outras unidades de aprendizagem ou um reenfoque dos conteúdos das unidades;
- Em que extensão os interesses dos estudantes, seus hábitos de trabalho e estudo e suas características pessoais indicam que um método de ensino-aprendizagem poderia ser melhor que outro?
O uso de pré-testes, sobre os objetivos do programa e de aprendizagem, bem como as técnicas observacionais e os processos seletivos, dentre outros, podem auxiliar na avaliação da situação do estudante no programa educacional e da utilização dos métodos de ensino-aprendizagem mais adequados, não só para o programa educacional atual, mas para as futuras turmas.
II. Avaliação Formativa (formative assessment): monitora o progresso da aprendizagem durante o processo educacional.
A Avaliação Formativa é utilizada para monitorar o progresso da aprendizagem. Seu propósito é de prover feedback contínuo, tanto para o estudante, quanto para o facilitador a respeito de sucessos e falhas na aprendizagem. Feedback, para os estudantes, provê reforço no aprendizado exitoso e identifica problemas de aprendizagem específicos, que necessitam de correção. Feedback, para o facilitador, provê informação para possíveis adequações nos métodos e nas técnicas de ensino-aprendizagem. A Avaliação Formativa depende de instrumentos preparados, especificamente, para cada segmento do currículo (unidade, módulo). Técnicas de observação, naturalmente, podem ser úteis, uma vez que a Avaliação Formativa é direcionada para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem e seus resultados não são utilizados para a obtenção de notas para o programa educacional.
III. Avaliação Somativa (summative assessment) ou certificativa: avalia o alcance dos objetivos de aprendizagem no final do processo educacional.
A Avaliação Somativa/Certificativa ocorre no final da unidade ou do programa educacional, sendo desenhada para determinar a extensão do alcance dos objetivos de aprendizagem. É utilizada para a obtenção de graus ou notas ou para certificação da maestria do estudante nos desfechos de aprendizagem desejados. As técnicas, utilizadas para Avaliação Somativa, são determinadas pelas competências e pelos objetivos de aprendizagem, incluindo testes de aquisição de conhecimentos, escalas de mensuração de performance (p.ex. prática de exame físico) e avaliações de produtos do processo educacional (p.ex. relatórios de pesquisa, de atividades de campo, ensaios, etc.). Apesar do principal propósito da Avaliação Somativa ser a certificação do aprendizado pelo estudante, ela, também, provê valiosa informação à coordenação sobre a adequação dos objetivos e a efetividade do processo educacional.
Avaliação de Competências Profissionais
Uma das questões relacionadas à avaliação da aprendizagem é a determinação do que avaliar. Podem-se avaliar conhecimentos (fatos, princípios, mecanismos, etc.), habilidades (cognitivas, psicomotoras, perceptuais, afetivas) e atitudes (comportamentos, opiniões, visões). No entanto, se o currículo é baseado em competências, deve-se optar por um sistema de avaliação, que avalie o grau de desenvolvimento das competências propostas pelo curso. Caso se deseje avaliar a capacidade de realizar determinada ação ou atividade no contexto real, trata-se de avaliação de performance ou desempenho
profissional.
Para avaliar o componente cognitivo da competência, podemos nos basear na Taxonomia de Bloom, de acordo com o nível crescente de complexidade, incluindo: Conhecimento, Compreensão, Aplicação, Análise, Síntese e Avaliação. Para a avaliação de competência como um todo, Miller (1990) propôs um modelo piramidal (Figura 2) no qual, na sua base, avalia-se o conhecimento (Saber); em uma camada acima, a habilidade cognitiva (Saber como); em seguida, a capacidade de demonstrar a competência em ambiente simulado (Mostra como); e, finalmente, a capacidade de demonstrar a competência no contexto real (Faz). Portanto, nas duas primeiras camadas da pirâmide avalia-se o campo cognitivo e nas duas últimas o campo comportamental.
Dentro desse modelo, diferentes métodos e instrumentos de avaliação devem ser utilizados. Assim, para avaliar o componente cognitivo da competência (“Sabe” e o “Sabe como”) testes factuais ou baseados no contexto clínico, por exemplo, devem ser utilizados. Exemplos destes tipos de testes podem ser questões de múltipla escolha, ensaio e avaliação oral. Para avaliar o componente comportamental da competência, diferentes métodos e instrumentos de avaliação de habilidades e de performance devem ser utilizados. No ambiente simulado (Mostra como), pode-se utilizar, por exemplo, o Oral Structured Clinical Examination (OSCE) e Testes baseados em Pacientes Simulados. No ambiente real (Faz), pode-se utilizar vídeos, testes, baseados em pacientes simulados, e observação direta, por exemplo.